terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Como trabalhar a lei 10.639/03 na sala de aula?

Quando adolescente tornei-me fã de Michael Jackson, e fiquei impressionado pela performance artística do cara. Cantar, dançar, interpretar e arrebentar com os shows, espetáculos, apresentações, clipes, coreografias e por aí vai. Ficava pensando no talento que ele transcendia, quanta originalidade, criatividade, autenticidade e personalidade nos palco, isso me fascinava. Passou uns tempos conheci o que todos chamavam de "break dance" e foi aí que me apaixonei pelo o corpo e o movimento. O ritmo louco e divertido que se dançava nas ruas contribuiu para com minha musicalidade, corporeidade, identidade, personalidade, auto-estima, afirmação etc. Girando como um maluco e executando cambalhotas nas praças e no colegio, tornei-me um Bboy (garoto de dança de rua) . O apreço pela capoeira ajudou na dança e contribuiu de certa forma no meu desenvolvimento psicomotor, pois eu sempre fui fascinado por acrobacias. A discriminação e preconceito como sempre é inevitável e minha mãe na maioria das vezes era solicitada a comparecer a coordenação de minha escola, para assuntos referentes as "maluquices do filho na hora do recreio”. Mas nem tudo estava perdido, por que lá no morro onde morava, o rufar dos tambores me levou a essência da nossa religião de matriz Africana. Eu aprendi que sou uma força da natureza e a natureza minha própria força e beleza.
Tantas coisas que eu devia saber, aprender e assumir, não me ensinavam e nem explicavam na escola. Não lembro de nenhum professor me dizendo que o meu gingado era motricidade, que minha dança era arte, que minha pele escura me protegia do sol, que meu batucar era música, que minha cultura não se consistia só em samba, carnaval e futebol, que meus antepassados não só contribuíram com arte e cultura do Brasil, como também foram a mola propulsora no subdesenvolvimento do país. A única coisa que lembro que a escola ensinou é que meu povo foi escravo.
Hoje vejo muitos de meus colegas perguntando como trabalhar a Lei 10.639/03 no cotidiano escolar . A dificuldade é fruto da necessidade de se conhecer os estigmas sociais que permeiam o âmbito humano, ou seja, se não entendermos os motivos, as causas, as feridas, as desigualdades, as injustiças, as inverdades, não saberemos pra onde ir e nem por que ir. Não se pode concluir um trabalho, se não tivermos os objetivos, não se pode ter objetivos, se não compreendemos esses problemas. Não se pode compreender algo que não sentimos. Não se pode sentir o que não vivenciou, experênciou. Apesar de tudo, acredito que toda iniciativa por parte de meus colegas é positiva, mesmo que seja um interesse obrigatório ou espontâneo.

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